Covid-19: o que mudou no consultório odontológico?
O COVID-19 virou nossas vidas de cabeça para baixo. Com os cirurgiões-dentistas não foi diferente. Suas principais vias de transmissão são por perdigotos, contato com mucosa e aerossol – tudo que temos de monte nos atendimentos odontológicos do nosso dia a dia.
Acredito que seja possível utilizar este tempo de isolamento social para repensarmos todos os processos existentes em nossos consultórios. Até que tenhamos uma vacina para esta doença tão terrível que ataca todo o sistema de saúde mundial, muita coisa vai mudar.
Será que aposentaremos de vez os jalecos de pano? Quais serão os novos E.P.Is que teremos que comprar e utilizar? Como será o fluxo dos pacientes? Como faremos com a recepção, já que teremos que evitar aglomerações? A sala de atendimento precisa de uma janela? Exaustão para renovação do ar? Como ficarão os atendimentos de convênios, que repassam pouco dinheiro e muitas vezes exigem consultas curtas com muitos atendimentos? Os pacientes terão dinheiro para gastar com dentista com essa crise?
Diante disso, fui atrás de fontes seguras para esclarecê-las para mim e para os meus colegas de profissão.
A comunicação via internet e os primeiros estudos que estão saindo relacionando Odontologia e a Covid-19 já mostram um caminho. Porém, ainda estamos tateando e nos adaptando em alguns aspectos. A doença é nova e desconhecida, não tem cura e nem vacina. Portanto, todo cuidado é pouco com a biossegurança e TODOS teremos que nos readequar.
Hoje, segundo os órgãos sanitários, conselhos e outras entidades, em alguns estados, o atendimento odontológico está restrito a urgências e emergências. Porém, quando retornarmos a normalidade, com o afrouxamento do isolamento social, acredito que os protocolos listados abaixo continuem sendo usados.
Como vai funcionar a entrevista pré-consulta?
Falaremos com o paciente ao telefone antes dele se dirigir ao consultório. É importante termos na cabeça, de cor e salteado, quais são os principais sintomas da Covid-19:
- Febre acima de 37,8ºC por mais de dois dias
- Dores Musculares e fraqueza
- Dores de cabeça e garganta
- Coriza
- Perda total de paladar e olfato
- Diarreia
- Tosse seca
- Dificuldade de respirar, falta de ar
Perguntas que devemos fazer aos pacientes antes de encaminhá-los ao consultório para o atendimento:
- Você teve algum quadro gripal nos últimos 14 dias? Apresentou algum dos sintomas mencionados acima?
- Convive ou teve contato com alguém com quadro gripal nos últimos 14 dias?
- Você tem mais de 60 anos?
-Você é portador de Diabetes, Hipertensão Arterial, Doença Pulmonar, Doença do Coração, Obesidade ou alguma Doença Autoimune?
Obtendo resposta SIM para as três primeiras perguntas, o indicado é que se faça o agendamento para depois de 21 dias, se não for um procedimento muito urgente. No caso afirmativo da última pergunta, o ideal seria marcar esse paciente na fase de desaceleração do surto de COVID-19.
Como devem ser as consultas e recepção dos pacientes?
Sempre com hora marcada. O dentista não deve de maneira alguma, cumprimentar o paciente com aperto de mãos. Como o vírus pode ser trazido da rua pelos sapatos, uma solução seria utilizar um capacho logo antes da porta de entrada embebido em solução de hipoclorito de sódio a 1%.
Ao entrar no consultório, o paciente deve vestir os propés que serão descartados na saída. Antes de entrar na sala de atendimento, a sugestão é que a temperatura do paciente seja aferida com um termômetro infravermelho, sem contato. Se ele se apresentar com mais de 37ºC, deve ser remarcado para depois de 21 dias. Obviamente, se não for uma urgência. Contudo, é muito importante o bom senso e estudo de cada caso individualmente.
Peça ao paciente que não atrase e nem mude o horário da consulta
O dentista e sua equipe devem chegar antes do horário marcado para preparo da sala de atendimento. Devemos repensar o fluxo do paciente desde sua chegada até sua saída, minimizando o toque em superfícies como maçanetas e outros. Se possível, o paciente não deve trazer acompanhantes e deve ser orientado a utilizar uma máscara (levar outra máscara sobressalente e um saco de papel para acondicioná-las) ao sair de casa, mesmo que esta seja de pano. A máscara do paciente só será retirada dentro da sala de atendimento.
As consultas deverão ser o mais sucintas e espaçadas possíveis. O intervalo sugerido é de 20 minutos entre um paciente e outro e de 2 horas se o dentista utilizar aerossol – ultrassom, jato de bicarbonato, caneta de alta rotação ou utilizar os dois botões da seringa tríplice. Por isso, o procedimento a ser realizado deve ser pensado antes. Portanto, todo material deve ser separado para evitar abertura de gavetas e saídas da sala de atendimento – o que pode contaminar outros cômodos.
Fluxo de atendimento ao paciente durante a pandemia do COVID-19
O paciente entra na sala, senta-se na cadeira e evita tocar em qualquer outra superfície. Ele recebe gorro, óculos de proteção e um babador descartável. Logo após, o dentista solicita que ele faça um bochecho com solução de peróxido de hidrogênio a 1% por 90 segundos. Essa solução pode ser manipulada com algum sabor ou feita com 1 porção de água oxigenada 10v para 2 porções de água destilada.
Melhor dos mundos: se possível e necessário, utilize isolamento absoluto. Todas as peças de mão devem ser higienizadas com álcool 70 e esterilizadas entre um paciente e outro.
Além disso, deve-se utilizar peças que tenham válvulas anti-refluxo. Lembre-se de lubrificar suas canetas e deixar elas rodando por cerca de 20 segundos antes e depois dos atendimentos. Utilize as barreiras plásticas como filme de PVC ou saquinhos nas pontas e na seringa tríplice. Tudo será trocado entre um paciente e outro. Também é indicado utilizar bomba à vácuo para sucção mais efetiva.
Como vai funcionar a dinâmica de pagamento das consultas?
Antes de entrar na sala de atendimento, solicite a realização do pagamento dos honorários. Uma indicação aqui é fornecer sobreluvas plásticas ao paciente. Ele as utiliza para abrir a carteira e pegar o dinheiro ou cartão. Você pode utilizar um pedaço de filme de PVC para proteger a máquina de cartão. Dê preferência à transferências bancárias feitas via celular. Após o pagamento, o paciente descarta as sobreluvas, lava as mãos e pode entrar na sala de atendimento.
Limpeza do consultório e sala de atendimento
O chão deve ser limpo com um pano com hipoclorito de sódio ou algum quarternário de amônio. Dentro da sala de atendimento, é possível utilizar spray de quarternário de amônio e deixá-lo no ar por 10 a 15 minutos sem ninguém dentro da sala.
Como vai funcionar a sua paramentação e da sua equipe?
Sugestão: ao chegar ao consultório troque a “roupa da rua” por um pijama cirúrgico de uso exclusivo dentro do consultório. Coloque todos os E.P.Is por cima desse pijama e realize seus atendimentos. No fim do dia, retire esse pijama, acondicione em um saco plástico para posterior lavagem, lave as mãos e vista novamente a “roupa da rua” para ir embora.
Paramentação completa
Luvas, máscara, gorro, óculos de proteção individual ou óculos com lupa, viseira ou face shield por cima de tudo, jaleco descartável gramatura mínima 40.
Se você tiver procedimento com aerossol, o indicado é utilizar máscara N95 PPF2, de preferência sem respirador.
DICAS:
– A máscara N95 PPF2 pode ser utilizada por até 14 dias se não molhar ou sujar com fluídos do paciente. Ela pode ser guardada em uma vasilia com furinhos.
– Prefira sempre trabalhar com auxiliares. Elas devem utilizar 2 luvas de procedimento. O dentista se concentra em tocar na boca do paciente e as auxiliares fazem toda instrumentação, evitando tocar na boca do paciente.
Momentos de lavagem de mãos, segundo OMS, CDC e ANVISA:
- Momento 1: antes de contato com o paciente;
- Momento 2: antes da realização de procedimento;
- Momento 3: após risco de exposição a fluidos biológicos;
- Momento 4: após contato com o paciente;
- Momento 5: após contato com áreas próximas ao paciente, mesmo que não tenha tocado o paciente. Cuidando direta ou indiretamente do paciente.
Após cada paciente tudo deve ser descartado, menos a máscara N95 PPF2 como foi descrito acima. As auxiliares tiram a segunda luva e com a luva de baixo fazem a desinfecção da viseira e dos seus óculos de proteção, além de todas as superfícies e áreas críticas. A limpeza dos materiais segue todas as normas de biossegurança já vigentes.
Muito cuidado ao retirar os E.P.Is
Sabemos que muitas vezes o contágio do profissional de saúde acontece nessa fase. A máscara será tirada por último e de preferência fora da sala de atendimento, pelos elásticos, sem tocar na parte da frente infectada.
Entenda que tudo isso que foi descrito é o ideal
Antes de mais nada, tomem muito cuidado com as adaptações às regras de biossegurança. Não se pode, de maneira alguma, afrouxar o cuidado nesse momento ímpar de pandemia. Vai ficar mais caro? Vai! Vou ter que começar a cobrar consulta? Obviamente que sim! Lembre-se que estamos no momento de reinvenção da profissão. O mundo todo saíra diferente e tenho certeza que os pacientes irão, cada vez mais, prestar atenção em todos os nossos processos.
Fonte: Todos Pela Odontologia. Disponível em: http://todospelaodontologia.com.br/dentral-cremer-covid-19-o-que-mudou-no-consultorio/. Acesso em: 19/08/2020.
imagem: dolgachov, de envatoelements