Meios de retenção em prótese total
A retenção é a resistência ao deslocamento da base protética no sentido vertical, ou contrário ao seu eixo de inserção. Quando a prótese é deslocada contrariamente ao eixo da sua inserção, ela perde a retenção.
A estabilidade é a resistência que a prótese vai ter por forças laterais, ao deslocamento lateral, ou por forças oblíquas que tendem a deslocar a prótese no eixo horizontal.
A prótese total (superior ou inferior) fica suportada no rebordo, na mucosa e aí se estabelecem fenômenos que vão justificar a sua retenção e estabilização. Estes fenômenos que justificam a retenção da prótese total podem ser: físicos, fisiológicos, psíquicos, mecânicos, químicos ou cirúrgicos.
Fenômenos Físicos
Os fenômenos físicos ocorrem diretamente entre a base da prótese, a parte interna da prótese e a mucosa do paciente. Os fenômenos físicos têm como intermediário a saliva que se interpõe entre a base da prótese e a mucosa.
- A adesão é uma força física que envolve a atração moléculas diferentes. Moléculas diferentes da prótese e da mucosa por intermédio da película de saliva.
- A coesão é a força de resistência entre as moléculas do mesmo material, neste caso, entre as próprias moléculas da saliva, pois quando a prótese tende a se deslocar, as moléculas de saliva se mantêm unidas para que não ocorra o rompimento dessa película salivar.
- A tensão superficial ocorre na região de junção da borda da prótese com a região de mucosa móvel do fundo de sulco vestibular. A película de saliva que fica entre a mucosa e a borda da prótese impede a penetração do ar, mantendo a pressão interna da saliva e mantendo a força coesiva. Caso se perca a tensão superficial e esse selamento periférico, entrará ar e a prótese cairá, pois ela perderá as forças de adesão e coesão.
- A pressão atmosférica exerce uma influência menor que as anteriores. Está relacionada com o peso da atmosfera na superfície da terra. Quando um paciente está com a prótese na boca (falando, andando) a pressão externa é igual a pressão da película de saliva, mas quando forças tendem a deslocar a prótese, a pressão externa passa a ser maior do que a pressão da película de saliva, e com o aumento dessa pressão externa a pressão da película de saliva irá se romper. O lado bom é que toda vez que a pressão externa aumentar, as forças coesivas e adesivas vão atuar para evitar o deslocamento da prótese e o rompimento da película de saliva. Em pacientes com pouca salivação fica difícil manter a prótese retida na boca, justamente por não conseguir realizar essas forças de adesão e coesão.
Fenômenos Fisiológicos
Os fenômenos fisiológicos dependem da configuração do rebordo, do controle neuromuscular e da quantidade de saliva do paciente.
- A configuração ou formato do rebordo residual influencia bastante na retenção da prótese. Um rebordo residual muito absorvido, com pouco osso por exemplo, não terá área suficiente para reter a prótese, e vai ter pouca retenção. Quanto maior for o volume ósseo, a crista, vertentes da crista e do rebordo, maior será a retenção. As vezes existem rebordos volumosos, ricos em osso, mas com muito tecido mole, o que dificulta a retenção. O rebordo pode ser alto, normal ou baixo (com rebordo reabsorvido não é bom).
- O controle neuromuscular é a capacidade adaptativa do paciente que será usuário de prótese total. Alguns pacientes se adaptam mais rapidamente do que os outros que tem mais dificuldade de adaptação, porque ao redor do local em que a prótese total é inserida há diversas inserções musculares que tendem a deslocar a prótese do rebordo. No começo as inserções musculares vão deslocar a prótese quando o paciente fala, abre a boca, dá um sorriso, faz um bocejo; mas o paciente terá que reaprender a limitar esses movimentos e se adaptar a esse limite. Com o tempo este paciente vai adquirir um arco-reflexo e exercer esses movimentos (mais limitados) sem perceber. Por este motivo, o paciente que é usuário de prótese total consegue se adaptar melhor à nova prótese, por já ter adquirido esses arco-reflexos, enquanto aquele que nunca usou terá que passar por todo o processo de adaptação à prótese total.
- A quantidade e qualidade da saliva também influencia na retenção de prótese total. Pacientes com uma quantidade excessiva de saliva podem significar problema, pois o excesso de saliva ajuda a perder a adesão, o mesmo para aqueles pacientes com deficiência de saliva, uma vez que faltará selamento periférico e as forças adesivas e coesivas não ocorrerão para reter a prótese. A qualidade ideal da saliva é fluida e serosa; já a saliva viscosa e espessa pode atrapalhar no ato da moldagem.
Fatores Psíquicos
Os fatores psíquicos classificam o paciente em três tipos. Pacientes receptivos que colaboram a todo momento para o êxito do tratamento. Pacientes cépticos que precisam adquirir confiança no trabalho para sentirem-se seguros. Paciente indiferente e negativo, o mais difícil de lidar, muitas vezes nem quer o tratamento, faz por outros motivos. Provavelmente, neste último caso, ocorra o insucesso do tratamento.
Fatores Mecânicos
Fatores mecânicos na montagem de dentes superiores e inferiores, que se relacionam entre si e que é possível estabelecer uma oclusão balanceada bilateral para manter a retenção e estabilização da prótese. Se a montagem mecânica desses dentes não estiver dentro da oclusão balanceada bilateral poderá não haver retenção e nem estabilização.
Fatores Químicos
Fatores químicos são outros meios que ajudam a reter a prótese através de produtos como: pastas, adesivos, entre uma série de outros produtos similares.
Fatores Cirúrgicos
Antigamente quando não havia os implantes usava-se muito uma cirurgia para aumentar a área basal e, consequentemente, aumentar a retenção da prótese total. Este procedimento caiu em desuso devido à sua taxa de insucesso. Com os implantes ósseo-integrados é possível integrar qualquer tipo de mandíbula, mesmo as com menor quantidade de osso.
Fonte: Profissão Dentista. Disponível em: https://profissaodentista.com/2017/01/23/meios-retencao-protese-total/. Acesso em: 24/08/2020.
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